Palavra do Pároco: A SANTÍSSIMA TRINDADE

25 de Maio de 2021

No próximo domingo, dia 30 de maio, celebramos na Liturgia a Solenidade da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo, mistério mais profundo da nossa Fé.

Através da Trindade Santa podemos compreender a nossa experiência de Deus, porém, muito mais podemos encontrar a realização da experiência de Deus conosco.

A compreensão da Santíssima Trindade não é um fato verificável empiricamente. É um ato de fé.

Os gregos, em sua sabedoria filosófica, tentaram explicar a existência de Deus mas não como uma pessoa e sim como um predicado. Estas explicações foram amplamente estudadas por Santo Tomás de Aquino que definiu o ser Divino como ser movente, causador, necessário, puro, inteligente.

Para o homem moderno, em seu ateísmo ocidental, Deus dever ser procurado no mundo da vivência do Eu.

A Trindade cristã, já há muto, expressou-se segundo o conceito comum da substância suprema divina: Una substantia – tres personae.

Santo Agostinho partiu do Deus Uno, como base na sua Essência Única e só após chegou à representação das pessoas trinitárias.

Em Hegel, a agregação do Pai, como o Eu, do Filho com o si próprio e do Espírito com a identidade do Eu próprio de Deus, constitui a estrutura fundamental da moderna doutrina trinitária.

Diferente da trindade substância suprema, a doutrina trinitária social presente nas novas teorias relativistas do mundo se torna mais adequada, em função das escrituras como testemunho da História, das relações comunitárias da Trindade, revelada ao mundo e aos homens.

Um indivíduo como tal, não pode comunicar-se: individuum est ineffabile.

É extremamente significativo para a nossa reflexão um ícone pintado por André Rubiev, monge russo do início do século XV, em honra de São Sérgio de Radonesh, outro monge do século XIV que durante o tempo violento (invasão dos tártaros), confortava o povo cristão com suas pregações sobre a Santíssima Trindade.

Ele pintou uma cena histórica da vida de Abraão – Abraão acampado no vale de Mambré (Gn 18, 105) – e fez desta cena pintada uma das mais belas mensagens, simbolicamente fecundas, do mistério mais profundo de nossa fé: a Santíssima Trindade.

Pintando aquela cena do Banquete oferecido por Abraão aos três visitantes, Rubiev consegue nos introduzir contemplativamente no mistério da Santíssima Trindade.

Neste ícone encontramos três aspectos da Santíssima Trindade: a igualdade, a diferença, a unidade.

Rubiev parte de uma meditação sobre a palavra de Jesus: “Felipe, quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9).

As três pessoas:

•Têm a mesma fisionomia;

•Têm o mesmo tamanho;

•Têm a mesma auréola (sinal de Santidade);

•Têm mesmo báculo de peregrino (simbolizado no ícone como cetro real, poder divino)

•Têm asas;

•Vestem azul – sinal de divindade;

•Estão em posições diferentes:

- Pai à esquerda: Roupa amarela, transparente, a luz irradiante (Jo 1, 1-5); mão estendida caracterizando envio, fonte e origem; postura ereta – envia o Filho e o Espírito Santo e não é enviado por ninguém.

- Filho ao centro: Veste vinho – sinal de sua natureza humana; a mão na mesa com os dedos em “V”, simboliza sinal de vitória; a estola simboliza o Sacerdote (Hb 9, 12); a cabeça inclinada indica a relação com o Pai (Jo 1, 18).

- Espírito Santo à direita: Figura mais inclinada, volta-se para o Pai e para o Filho (Jo 14, 16, 17.26); capa verde esmeralda, transparecendo uma cascata de água que cai sobre nós (Sb 1, 7; Ap 22, 1).

•Estão sentados numa harmonia com expressão circular representando movimento;

•Caracterizam uma comum união e um dinamismo (Jo 4, 16);

•Transparecem uma intimidade mútua.

Pai e Filho:

•Próximo um do outro, as asas se sobrepõem;

•Posição inclinada do Filho voltado para o Pai (recorda João com Cristo na Última Ceia (Jo 13, 25; 17, 9-10).

Filho e Espírito Santo

•Estão próximos e as asas se tocam;

•Envolvidos pelo mesmo movimento voltado para o Pai;

•Suas mãos quase se tocam em cima da mesa (os dois foram enviados pelo Pai para missão).

Pai e Espírito Santo:

•Ambos de corpo inteiro, suas pernas traçam o contorno de uma copa que envolve o próprio Cálice onde Cristo se imola;

•Seus pés quase se tocam, preparando a entrada do Cristo (o próprio caminho) na história.

Outros elementos:

•Casa sobre o anjo da esquerda - Casa de Abraão (Igreja);

•Árvore sobre anjo no centro (Cruz);

•Carvalho que abriga Abraão (Trono de cristo);

•Rocha sobre anjo da direita - Onde Deus se manifesta (lugar Teofânico);

•Bandeja sobre a mesa com cordeiro servido por Sara (mulher de Abraão) às 3 horas.

•Cálice Eucarístico

•Mesa com orifício – Altar do sacrifício dos Mártires

Nós cristãos, fazendo a releitura do texto ficamos eletrizados com a aparente incongruência nas palavras de Abraão que viu três e os convida como se fossem um só: “meu Senhor, eu te peço...”.

Fonte: http://pensandoaltofilosofia.blogspot.com/

Imagem: Reprodução Internet

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